
Rentabilidade da lavoura de trigo preocupa produtores gaúchos
Após dois anos de safras afetadas pelas intempéries do tempo no Rio Grande do Sul, a expectativa de maior produtividade do trigo neste ciclo, com condições climáticas favoráveis, pode resultar em frustração para o produtor gaúcha na hora da comercialização em razão da queda de valor do grão. A ampla oferta mundial e a previsão de colheita cheia na América Latina já impactam no preço do trigo, que no Estado registra queda de 17,6% nos últimos dois meses. Segundo levantamento diário feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), o preço médio caiu de R$ 844,29 a tonelada no início de agosto para R$ 695,13 no final de setembro. O levantamento considera valores informados por produtores e indústrias de Passo Fundo, Ijuí, Santa Rosa e Santa Maria.
Para a analista de mercado do Cepea, Rafaela Moretti Vieira, a retração dos compradores, decorrente do maior volume de trigo importado do Mercosul, pressiona o preço para baixo. De janeiro a agosto de 2016, o Brasil importou 221,85 mil toneladas de trigo de Argentina, Paraguai e Uruguai – quase 8 mil toneladas a mais do que no mesmo período de 2015.
Presidente do Sindicato da Indústria de Trigo no Rio Grande do Sul (Sinditrigo-RS), Andreas Elter avalia que a safra de trigo do Estado será de “qualidade excepcional” e abastecerá quase a totalidade da demanda dos moinhos locais, que é de 1,4 milhão de toneladas. Sobre a importação da Argentina, esclarece que a decisão ocorre devido à qualidade necessária para atender à exigência do mercado.
No Rio Grande do Sul a colheita começa em meados de outubro e o grão que está sendo negociado ainda é da safra passada. Na região de Passo Fundo, os preços registraram queda de 20% em 30 dias. O valor da saca de 60 quilos caiu de R$ 45 há um mês para R$ 36 atualmente — abaixo do preço mínimo, que é de R$ 38,65 a saca — segundo a Emater. O agrônomo Claudio Doro, assistente técnico regional da Emater em Passo Fundo, comenta que o ideal seria os produtores conseguirem travar o preço para fazer contratos futuros. Mas reconhece que não há interesse.
— Os moinhos estão abastecidos, a tendência é cair mais o preço — avalia Doro.
Outros fatores contribuem para o cenário de desvalorização do produto, como os estoques mundiais, que chegam a 236 milhões de toneladas, e que serão ampliados com a entrada da safra de trigo da Argentina, que deve aumentar de 11 milhões de toneladas no ciclo passado para 14,4 milhões de toneladas neste ano. O avanço da colheita do Paraná, estimado em 3,3 milhões de toneladas, também influencia na queda dos preços.
Monitoramento para garantir qualidade
Em fase de floração, formação de espiga e enchimento de grão, as lavouras de trigo estão em período crítico, pois é nesta época que doenças oportunistas, como a ferrugem da folha e a giberela, podem surgir.
— Os produtores devem fazer o monitoramento pelo menos duas vezes por semana, mesmo com o tempo favorável — explica Claudio Doro, da Emater.
A incidência de bastante sol durante o dia e temperatura amena durante a noite, indicam que a safra gaúcha de trigo será de boa qualidade. A projeção da Emater é de que o Rio Grande do Sul colherá 2,4 milhões de toneladas, chegando a uma produtividade média de três mil quilos por hectare — o dobro da média das últimas duas safras.
Fonte: Zero Hora