
Após um ano da confirmação de caso de mormo no RS, erradicação da doença ainda não tem prazo
Discussão sobre a eficiência do teste de maleína abre caminho para judicialização da questão.
Desde 2015 foram detectados 41 focos da doença no Estado
Um ano após a confirmação do primeiro caso de mormo no Rio Grande do Sul, o Estado contabiliza mais de 100 mil exames feitos, 41 focos e 61 animais com resultados positivos para a doença, mas não há promessa de prazo das autoridades sanitárias para debelar a doença. Causada por uma bactéria, a enfermidade infecciosa atinge principalmente os equídeos, mas também é uma zoonose – ou seja, pode ser transmitida para seres humanos.
Responsável pelo programa de sanidade de equídeos da Secretaria da Agricultura, o fiscal agropecuário Gustavo Diehl avalia que erradicar o mormo é um trabalho complexo, que depende da conscientização dos criadores, fazendo os testes, e da cobrança dos exames pelos organizadores e veterinários responsáveis técnicos por eventos como rodeios, onde há circulação de cavalos. Segundo Diehl, o Estado usa o mesmo protocolo empregado em países onde a doença foi controlada.
– Estamos caminhando neste sentido, mas não dá pra dizer quanto tempo vai levar – admite o veterinário.
Os métodos adotados para o controle, entretanto, são alvo de controvérsia. Especializada em equídeos, a professora de veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Petra Garbade lembra que há uma grande discussão em torno da qualidade e da eficiência do teste de maleína (substância injetada no animal que provoca reação quando há contaminação), apesar de ser o teste considerado como conclusivo hoje pelas normativas do Ministério da Agricultura.
– Em muitos países não existe mais esse exame. É algo pouco indicado – pondera a especialista.
A controvérsia abriu caminho para judicializar a questão. Donos de 12 propriedades onde foram verificados focos têm liminares que impediram o sacrifício dos animais. Mesmo assim, as propriedades permanecem interditadas. Para Diehl, há risco porque os animais podem continuar a espalhar a bactéria. Apesar da preocupação das autoridades sanitárias, para Petra Garbade há exagero na repercussão em torno do mormo. Conforme a literatura, no homem é uma doença altamente letal, lembra Diehl.
Crítica à estrutura e à falta de pessoal
Envolvido nas discussões com as autoridades sanitárias pelo envolvimento em eventos em que há confluência de cavalos, o presidente da Federação Gaúcha de Laço, Cleber
Vieira, avalia que o trabalho de monitoramento deixa a desejar. Para Vieira, há deficiência de estrutura e de pessoal para controlar o mormo. O receio levou ao cancelamento de vários desfiles da Semana Farroupilha no ano passado. O primeiro caso no Estado foi confirmado no início de junho de 2015, em Rolante.
– A doença nos pegou completamente despreparados – sustenta o dirigente, que também reclama dos gastos para fazer o exame, que chegariam a R$ 200 por animal, incluindo o teste em si, mão de obra e demais custos.
Para a emissão das Guias de Trânsito Animal (GTAs), são exigidos exames negativos para a doença, válidos por 60 dias. O problema, alerta Vieira, é que muitas vezes a resposta leva 15 dias. Com isso, está em discussão a possibilidade de o prazo de validade ser aumentado para 180 dias.
A DOENÇA
É uma enfermidade infecciosa, de caráter agudo ou crônico, que acomete principalmente equídeos, mas pode atingir também seres humanos, embora seja considerado raro. O agente epidemiológico é uma bactéria.
Alguns sinais clínicos frequentes são febre, tosse, corrimento nasal e prostração. Na fase final da doença, a broncopneumonia pode levar o animal a morte por insuficiência respiratória. Não há vacina ou tratamento.
Alguns equídeos podem não apresentar sintomas, assim pode ser fonte de disseminação da doença para outros animais e pessoas.
Para o diagnóstico, o Ministério da Agricultura preconiza como métodos o teste de Fixação do Complemento como triagem, realizado em laboratório credenciado ou oficial, e o exame complementar de maleinização, que é realizado somente pelo serviço veterinário oficial.
Para adoção do sacrifício, é necessário que o animal tenha resultado positivo nos dois testes.
O ministério está submetendo à consulta pública projeto de instrução normativa que estabelece as diretrizes para a prevenção, o controle e a erradicação do mormo.
Fonte: Zero hora